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Tiradentes: A História de um Herói Brasileiro e a Luta pela Liberdade

I. Introdução: Conhecendo Tiradentes

Você já ouviu falar de um herói brasileiro chamado Tiradentes? Talvez você saiba que existe um feriado em homenagem a ele, mas por quê? A história de Tiradentes nos leva para um tempo muito antigo, quando o Brasil era bem diferente do que conhecemos hoje. Ele foi uma pessoa importante que participou de um plano secreto para tentar libertar uma parte do Brasil do domínio de outro país.

Nesta jornada pela história, vamos descobrir quem foi Tiradentes, como era o Brasil na época em que ele viveu, qual foi esse plano secreto chamado Inconfidência Mineira, o que aconteceu com ele e por que, muitos anos depois de sua morte, ele se tornou um símbolo tão importante para o Brasil, lembrado como um herói nacional. Prepare-se para conhecer a história de coragem, sonhos e sacrifício de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

II. Tiradentes: O Homem por Trás do Nome

A. Seu Nome Verdadeiro e Apelido

O homem que conhecemos como Tiradentes tinha um nome comprido: Joaquim José da Silva Xavier. Mas por que o apelido “Tiradentes”? Esse apelido surgiu porque uma das profissões que ele exercia era a de dentista amador, ou seja, ele ajudava as pessoas arrancando dentes que estavam doendo. Naquela época, não existiam dentistas como os de hoje, e ter alguém que fizesse esse trabalho era útil. Esse apelido o tornou conhecido e, de certa forma, o aproximava das pessoas comuns, pois ele tinha um trabalho prático, diferente de muitos outros envolvidos na Inconfidência, que eram ricos fazendeiros, poetas ou oficiais de alta patente.

B. Onde e Quando Ele Viveu

Joaquim José da Silva Xavier nasceu há muito tempo, em 12 de novembro de 1746, na Capitania de Minas Gerais. “Capitania” era como um estado do Brasil naquela época. Ele nasceu em uma fazenda que ficava entre as cidades de São João del-Rei e a cidade que hoje leva seu nome, Tiradentes. O local mais específico apontado como seu berço é a Fazenda do Pombal, que pertencia ao distrito de Santa Rita Durão, hoje parte do município de Ritápolis. Ele viveu no século XVIII, ou seja, nos anos 1700. Minas Gerais era um lugar muito importante naquela época, principalmente por causa da descoberta de ouro.

Sua vida terminou de forma trágica. Ele foi morto no Rio de Janeiro, enforcado, no dia 21 de abril de 1792. Essa data, como veremos, se tornou muito significativa na história do Brasil.

C. Seus Muitos Trabalhos

Tiradentes não foi apenas um dentista amador. Ele teve várias outras profissões ao longo da vida. Uma das mais importantes foi a de militar. Ele era um alferes, que é como um oficial de baixa patente, um tenente nos dias de hoje. Como militar, ele chegou a comandar a tropa que patrulhava o “Caminho Novo”, uma estrada muito importante que ligava a região das minas de ouro (Minas Gerais) ao porto do Rio de Janeiro, por onde o ouro era enviado para Portugal. Essa posição estratégica certamente deu a Tiradentes uma visão privilegiada do controle que Portugal exercia sobre as riquezas brasileiras e da quantidade de ouro que saía do país, o que pode ter aumentado seu descontentamento com o domínio português.

Além disso, ele também trabalhou como mascate, que era um tipo de vendedor viajante, e como minerador, buscando ouro como muitas outras pessoas na região. Ter exercido tantas funções diferentes mostra que ele conhecia bem a vida na colônia, as dificuldades das pessoas e a realidade da exploração do ouro, o que o ajudou a conversar e a se conectar com gente de diferentes grupos sociais.

Tabela 1: Datas Importantes na História de Tiradentes

III. A Vida no Brasil de Antigamente: Uma Colônia Portuguesa

A. O Que Significava Ser “Colônia”

Na época em que Tiradentes viveu, o Brasil não era um país independente como hoje. Era uma colônia de Portugal. Isso começou em 1500 e durou até 1822, quando o Brasil finalmente conquistou sua independência. Ser uma colônia significava que Portugal mandava no Brasil. Imagine que outra pessoa é dona da sua casa, dita as regras e leva embora as coisas de valor que encontra por lá. Era mais ou menos assim.

Portugal tomava todas as decisões importantes. As leis vinham de Portugal, e quem governava o Brasil eram representantes do rei português, como os governadores-gerais. O principal interesse de Portugal era explorar as riquezas do Brasil para vender na Europa e lucrar. Primeiro, foi a madeira, o pau-brasil. Depois, veio a cana-de-açúcar, que era plantada em grandes fazendas no Nordeste. E, na época de Tiradentes, a grande riqueza era o ouro encontrado em Minas Gerais.

Para garantir que Portugal lucrasse o máximo possível, existia o chamado “Pacto Colonial”. Isso significava que o Brasil só podia fazer comércio com Portugal. Não podia vender seus produtos para outros países nem comprar deles diretamente. Tudo tinha que passar por Portugal, que ficava com a maior parte do lucro. Além disso, Portugal impôs sua língua (o português) e sua religião (o catolicismo) aos habitantes do Brasil, incluindo os indígenas e os africanos trazidos à força como escravizados para trabalhar nas plantações e nas minas.

B. A Corrida do Ouro em Minas Gerais

No final do século XVII e durante todo o século XVIII (a época de Tiradentes), a descoberta de enormes quantidades de ouro e diamantes em Minas Gerais mudou a história do Brasil. Muita gente se mudou para a região em busca de riqueza, e a mineração se tornou a atividade econômica mais importante.

Essa riqueza, porém, atraiu ainda mais o controle de Portugal. A Coroa Portuguesa (o governo do rei) queria garantir sua parte e criou impostos pesados sobre o ouro extraído. O imposto mais conhecido era o “Quinto”. Ele obrigava os mineradores a entregar 20%, ou seja, a quinta parte de todo o ouro encontrado, para Portugal. Para controlar isso, o ouro tinha que ser levado às Casas de Fundição. Lá, ele era pesado, o imposto era retirado, e o restante era derretido e transformado em barras com um selo de Portugal, provando que o imposto tinha sido pago. O ouro só podia circular legalmente depois de “quintado”.

Com o tempo, a quantidade de ouro encontrado começou a diminuir. Mesmo assim, Portugal queria continuar recebendo a mesma quantia em impostos. A Coroa estabeleceu uma meta anual de arrecadação do Quinto: 100 arrobas de ouro (cerca de 1.500 quilos). Se a arrecadação não chegasse a essa meta, o governo português ameaçava cobrar a “Derrama”. A Derrama era a cobrança forçada da diferença que faltava para atingir as 100 arrobas. Isso significava que os habitantes de Minas Gerais teriam que completar o valor com seus próprios bens, mesmo que não tivessem mais ouro. A simples ameaça da Derrama causava muito medo e revolta na população, pois poderia levar muitas famílias à ruína. Havia também outros impostos, como a “Capitação”, que cobrava um valor por cada pessoa escravizada que trabalhava para um senhor.

Esses impostos altíssimos e a forma como Portugal controlava a economia geravam muita insatisfação em Minas Gerais. As pessoas sentiam que trabalhavam duro nas minas, enfrentando perigos e dificuldades, mas a maior parte da riqueza ia embora para Portugal. Curiosamente, grande parte desse ouro brasileiro nem ficava em Portugal. Por causa de acordos comerciais desfavoráveis com a Inglaterra, como o Tratado de Methuen (conhecido como tratado dos “panos e vinhos”), Portugal acabava usando o ouro brasileiro para comprar produtos ingleses, como tecidos. Assim, a riqueza extraída do Brasil ajudou a financiar o desenvolvimento industrial da Inglaterra, enquanto Portugal e, principalmente, o Brasil não se beneficiavam tanto a longo prazo. Essa situação de exploração econômica e a pressão dos impostos foram o estopim para que algumas pessoas começassem a pensar em se libertar de Portugal.

IV. Um Plano Secreto: A Inconfidência Mineira

A. O Que Foi?

Em meio a toda essa insatisfação com os impostos e o domínio português, um grupo de pessoas em Minas Gerais começou a se reunir em segredo para planejar uma revolta. Esse movimento ficou conhecido como Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira, e aconteceu por volta dos anos 1788 e 1789. A palavra “Inconfidência” significa falta de fidelidade ou traição à confiança – neste caso, era vista pelo governo português como uma traição ao rei.

Quem participava desse plano secreto? Eram principalmente pessoas da elite de Minas Gerais: poetas e escritores famosos (como Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa), padres, militares (como o próprio Tiradentes), fazendeiros ricos e outros homens influentes da sociedade local. Eles estavam cansados da exploração portuguesa, especialmente da alta cobrança de impostos sobre o ouro e da ameaça constante da Derrama.

B. O Sonho Deles (Objetivos)

O principal objetivo dos inconfidentes era tornar a Capitania de Minas Gerais independente de Portugal. Eles sonhavam em criar um novo país, uma República, onde não haveria um rei e as decisões seriam tomadas ali mesmo. A inspiração para essa ideia vinha, em parte, da recente independência dos Estados Unidos (que tinha acontecido em 1776) e também das ideias de liberdade que circulavam na Europa na época, conhecidas como Iluminismo.

Além da independência e da República, eles tinham outros planos:

• Estabelecer a capital do novo país na cidade de São João del Rei.Criar uma universidade em Vila Rica (a cidade que hoje se chama Ouro Preto).Incentivar a criação de indústrias locais (manufaturas), para que a região não dependesse apenas do ouro e pudesse produzir outras coisas.
• Formar um exército próprio, composto pelos cidadãos da capitania.
• Cancelar as dívidas que os colonos tinham com o governo português. Este último ponto era especialmente importante para muitos dos participantes, que deviam grandes somas à Coroa.

É interessante notar que, embora buscassem a “liberdade”, os inconfidentes não tinham um plano claro sobre o que fazer com as milhares de pessoas escravizadas que viviam e trabalhavam em Minas Gerais. Alguns defendiam o fim da escravidão, mas outros queriam mantê-la. Essa divisão mostra que o movimento era liderado pela elite, preocupada principalmente com seus próprios interesses econômicos e políticos, e que a ideia de liberdade não era para todos naquela época.

C. A Ideia da Bandeira

Para simbolizar o novo país que sonhavam criar, os inconfidentes imaginaram até uma bandeira. Ela seria branca, com um triângulo vermelho no centro. Ao redor do triângulo, estaria escrita uma frase em latim: “Libertas quae sera tamen”.

O triângulo, sugerido por Tiradentes, tinha um significado especial. Poderia representar a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), importante na religião católica. Para outros, especialmente aqueles ligados à Maçonaria (uma sociedade secreta da qual alguns inconfidentes faziam parte), o triângulo simbolizava os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que também inspiraram a Revolução Francesa, que aconteceria logo depois, em 1789.

A frase em latim, “Libertas quae sera tamen”, foi sugerida por outro inconfidente, o poeta Alvarenga Peixoto, e significa “Liberdade ainda que tardia”. Era um lema que expressava o desejo de se libertar de Portugal, mesmo que demorasse. A criação de uma bandeira e de um lema era um passo importante, pois ajudava a dar uma identidade própria ao movimento e ao país que eles queriam fundar. Essa bandeira imaginada pelos inconfidentes serviu de inspiração para a bandeira que o estado de Minas Gerais usa até hoje.

V. O Papel de Tiradentes: Espalhando a Notícia

Dentro do grupo secreto da Inconfidência Mineira, Tiradentes teve um papel muito importante, embora talvez não fosse o principal líder ou o cérebro por trás de todo o plano. Sua grande contribuição foi como propagandista. Isso quer dizer que ele era um dos mais ativos e entusiasmados em divulgar as ideias do movimento.

Ele viajava pela região, conversava com as pessoas e tentava convencê-las a apoiar a causa da independência. Sua paixão pela ideia de um Brasil livre de Portugal era contagiante. Ele não tinha medo de falar sobre os planos e de criticar o governo português. Inclusive, fez viagens importantes, como uma ida ao Rio de Janeiro, na tentativa de conseguir mais apoio e, quem sabe, armas para a futura revolta.

Por ser essa pessoa que falava abertamente e tentava recrutar mais gente, Tiradentes se tornou uma figura muito visível dentro da conspiração. Enquanto outros líderes, talvez mais ricos e cautelosos, agiam com mais discrição, Tiradentes era a “cara” pública do movimento para muitas pessoas. Essa visibilidade, como veremos, acabou tendo consequências graves para ele quando o plano foi descoberto.

VI. O Plano Descoberto: Traição e Punição

A. A Traição

Apesar de todo o planejamento e entusiasmo, a Inconfidência Mineira nunca chegou a acontecer de verdade. O plano secreto foi descoberto pelas autoridades portuguesas antes que a revolta pudesse começar.

Como descobriram? Por causa de uma traição. Alguns dos próprios membros do grupo decidiram contar tudo ao governador de Minas Gerais, o Visconde de Barbacena. O traidor mais famoso foi Joaquim Silvério dos Reis. Ele era um coronel que também participava das reuniões secretas, mas devia muito dinheiro ao governo português. Para se livrar de suas dívidas, ele denunciou seus companheiros, revelando todo o plano em troca do perdão financeiro da Coroa. Foi como contar um segredo importante para escapar de um problema pessoal.

B. Prisões e Julgamento

Assim que o Visconde de Barbacena soube da conspiração, ele agiu rapidamente. Primeiro, para acalmar os ânimos da população que temia a Derrama, ele anunciou que ela estava suspensa. Logo depois, em 1789, começou a prender todos os suspeitos de envolvimento na Inconfidência.

Tiradentes, que estava no Rio de Janeiro tentando conseguir apoio, foi um dos primeiros a ser preso, em maio de 1789. Os inconfidentes presos foram levados para o Rio de Janeiro para serem julgados. O processo foi longo e demorado, durando quase três anos. Durante o julgamento, muitos tentaram negar sua participação ou diminuir sua culpa. Dizem que Tiradentes, ao contrário de muitos, assumiu sua responsabilidade no movimento.

C. O Sacrifício de Tiradentes

Finalmente, em 1792, saiu a sentença. Vários inconfidentes foram condenados à morte na forca ou ao degredo (ser expulso do Brasil para sempre, geralmente para colônias portuguesas na África).

Porém, a rainha de Portugal na época, Dona Maria I, decidiu mudar a maioria das sentenças de morte para degredo. Talvez ela tenha feito isso para não provocar ainda mais a ira das famílias ricas e poderosas de Minas Gerais, das quais muitos inconfidentes faziam parte.

Mas houve uma exceção. Apenas um dos condenados teve sua pena de morte mantida: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Por que ele? Provavelmente por vários motivos. Ele era um dos mais ativos propagandistas, era militar (o que tornava sua “traição” mais grave aos olhos da Coroa) e, talvez o mais importante, ele não pertencia às famílias mais ricas e influentes. Sua execução serviria como um exemplo terrível para todos, sem causar tantos problemas políticos para Portugal quanto executar membros da alta elite colonial.

Assim, no dia 21 de abril de 1792, Tiradentes foi levado à forca em praça pública no Rio de Janeiro e executado. Mas a punição não parou por aí. Para que o castigo servisse de exemplo e aterrorizasse a população, seu corpo foi esquartejado (cortado em pedaços). Partes do seu corpo foram expostas ao longo do Caminho Novo, a estrada que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais. Sua cabeça foi levada para Vila Rica e colocada em um poste alto na praça principal, para que todos vissem o destino de quem ousasse desafiar o poder de Portugal.

Essa morte brutal transformou Tiradentes em um mártir – alguém que morre por defender suas ideias e sua causa. Embora a Inconfidência Mineira tenha fracassado em seu objetivo de independência, o sacrifício de Tiradentes ficaria marcado na memória e, anos mais tarde, seria reinterpretado de uma forma completamente diferente.

VII. De Mártir a Herói: Por Que Lembramos de Tiradentes

A. Tornando-se um Símbolo Nacional

Após a morte de Tiradentes, por muitos e muitos anos, sua história foi quase esquecida ou lembrada de forma negativa. Durante o período em que o Brasil foi um Império (de 1822 a 1889), governado por D. Pedro I e D. Pedro II – neto e bisneto da rainha D. Maria I, que havia condenado Tiradentes –, não havia interesse em celebrar a memória de alguém que tinha conspirado contra a Coroa Portuguesa e a monarquia. Ele era visto como um “inconfidente”, um traidor.

Tudo mudou em 1889, quando um golpe militar derrubou o imperador D. Pedro II e o Brasil se tornou uma República. Os novos líderes republicanos precisavam de símbolos fortes para unir o país em torno do novo regime e justificar a mudança. Eles precisavam de heróis nacionais que representassem os ideais republicanos de liberdade e luta contra a opressão.

Foi nesse momento que a figura de Tiradentes foi resgatada do passado e transformada. Os republicanos viram nele o exemplo perfeito: alguém que tinha lutado e morrido por ideais republicanos e pela independência, muito antes da República existir de fato. Ele se tornou um símbolo da coragem, do patriotismo e da luta pela liberdade contra o domínio estrangeiro. Foi uma escolha política inteligente: Tiradentes era militar (o que agradava aos militares que fundaram a República), tinha origem mais humilde que outros inconfidentes (o que ajudava a conectá-lo ao “povo”) e sua morte trágica o transformava em um mártir perfeito para a causa republicana. Assim, a história de Tiradentes foi recontada, e ele foi elevado à condição de herói nacional para dar legitimidade histórica ao novo governo republicano.

B. O Feriado: Dia de Tiradentes

Para consolidar Tiradentes como herói nacional, uma das primeiras medidas do governo republicano foi criar um feriado em sua homenagem. Já em 1890, um ano após a Proclamação da República, o dia 21 de abril, data da execução de Tiradentes, foi declarado feriado nacional.

Esse feriado existe até hoje e serve para que todos os anos os brasileiros se lembrem da história de Tiradentes, da Inconfidência Mineira e da longa jornada do Brasil em busca de sua independência e de um governo próprio. Tiradentes foi oficialmente reconhecido como “Patrono Cívico do Brasil”, ou seja, um protetor simbólico da nação brasileira. A criação do herói Tiradentes foi, portanto, um processo histórico e político, que escolheu uma figura do passado para representar os valores que a República queria afirmar.

VIII. Símbolos da História

A. A Bandeira da Liberdade

Um dos símbolos mais fortes deixados pela Inconfidência Mineira é a bandeira que eles planejaram. Aquela bandeira branca com um triângulo vermelho no centro e a frase em latim “Libertas quae sera tamen” representa o sonho de liberdade dos inconfidentes.

Mesmo que o plano deles não tenha dado certo na época, a ideia de “Liberdade ainda que tardia” continuou viva. Tanto que, muitos anos depois, quando o estado de Minas Gerais foi criar sua bandeira oficial (em 1963), eles se inspiraram diretamente no desenho dos inconfidentes. A bandeira de Minas Gerais que vemos hoje, com o triângulo vermelho e a frase em latim, é uma homenagem direta à Inconfidência Mineira e mantém viva a memória daquele movimento e de seus ideais. O símbolo sobreviveu ao tempo e se tornou parte da identidade do estado onde tudo começou.

B. As Imagens de Tiradentes

Quando pensamos em Tiradentes, geralmente vem à mente a imagem de um homem com cabelos compridos e barba longa, vestindo uma túnica branca, com um olhar sereno, quase como as imagens que vemos de Jesus Cristo. Essa imagem ficou muito famosa, principalmente por causa de pinturas feitas depois que ele se tornou herói da República, como o quadro “Tiradentes Esquartejado”, pintado por Pedro Américo em 1893.

Essa representação visual foi uma escolha deliberada dos republicanos. Ao retratar Tiradentes de forma parecida com Jesus, eles queriam associar seu sacrifício pela pátria ao sacrifício de Cristo, dando um peso moral e quase religioso à sua figura e à causa republicana. Era uma forma de criar um mito poderoso.

No entanto, os historiadores acreditam que essa imagem provavelmente não corresponde à realidade. Primeiro, porque Tiradentes era um militar (alferes) e, naquela época, os militares geralmente usavam cabelos curtos e, no máximo, um bigode discreto. Barbas compridas não eram comuns no exército. Segundo, porque os prisioneiros daquele tempo costumavam ter os cabelos e a barba raspados, até por questões de higiene, para evitar piolhos. Portanto, é muito mais provável que Tiradentes tenha sido executado de cabelos e barba raspados.

A imagem popular de Tiradentes, com barba e cabelos longos, nos diz mais sobre como a República Brasileira quis que ele fosse lembrado – como um mártir idealizado, um “Cristo cívico” – do que sobre sua aparência real.

IX. Conclusão: O Legado de Tiradentes

A história de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é uma viagem fascinante pelo passado do Brasil. Vimos como um homem com diversas profissões, vivendo em Minas Gerais durante o ciclo do ouro, se envolveu em um plano audacioso para libertar sua terra do domínio português. A Inconfidência Mineira, embora traída e derrotada antes mesmo de começar, marcou um momento importante de questionamento do poder colonial.

Tiradentes, por seu entusiasmo e por ter sido o único a receber a pena de morte, pagou o preço mais alto. Sua execução brutal foi um ato de intimidação da Coroa Portuguesa, mas, ironicamente, transformou-o em um mártir. Quase cem anos depois, com o fim do Império e o nascimento da República, sua figura foi resgatada e elevada à condição de herói nacional, um símbolo da luta pela liberdade e pelos ideais republicanos.

O feriado de 21 de abril e a bandeira de Minas Gerais são lembretes constantes dessa história. O legado de Tiradentes não está apenas nos fatos históricos, mas também na força simbólica que sua imagem adquiriu. Ele nos recorda que a história de um país é feita de sonhos, lutas, sacrifícios e, também, de como escolhemos lembrar e honrar nosso passado. A trajetória de Tiradentes mostra como a coragem de um indivíduo, mesmo em um movimento que fracassou, pode inspirar gerações e se tornar um pilar na construção da identidade de uma nação.

Perguntas para o 7º Ano

Perguntas Abertas:

1. Descreva como era a vida no Brasil na época de Tiradentes, explicando o que era o “Pacto Colonial” e como Portugal explorava o ouro de Minas Gerais.
2. Quais eram as principais reclamações das pessoas em Minas Gerais que levaram à Inconfidência Mineira? Explique o que era o “Quinto” e a “Derrama”.
3. Qual foi o papel específico de Tiradentes na Inconfidência Mineira? Ele era o principal líder ou tinha outra função importante?
4. Como a Inconfidência Mineira foi descoberta? Quem traiu o movimento e por quê?
5. Por que Tiradentes foi transformado em herói nacional muito tempo depois de sua morte? Qual evento histórico foi importante para isso acontecer?

Perguntas Fechadas (Múltipla Escolha):

1. A Inconfidência Mineira foi inspirada, em parte, por qual evento internacional e por quais ideias?

a) A Revolução Industrial na Inglaterra e ideias socialistas.

b) A chegada dos portugueses ao Brasil e ideias mercantilistas.

c) A Independência dos Estados Unidos e ideias iluministas.

d) A Guerra dos Cem Anos na França e ideias feudais.

2. Qual cidade os inconfidentes planejavam transformar na capital da nova República?

a) Rio de Janeiro

b) Vila Rica (Ouro Preto)

c) São João del Rei

d) Mariana

3. O que aconteceu com o corpo de Tiradentes após sua execução?

a) Foi enterrado secretamente no Rio de Janeiro.

b) Foi levado de volta para Minas Gerais e entregue à família.

c) Foi esquartejado e partes foram expostas publicamente.

d) Foi cremado e as cinzas jogadas no mar.

4. A bandeira planejada pelos inconfidentes, que inspirou a de Minas Gerais, tinha qual símbolo principal no centro?

a) Uma coroa

b) Um losango amarelo

c) Uma cruz vermelha

d) Um triângulo vermelho

5. Qual era a principal atividade econômica em Minas Gerais na época de Tiradentes?

1. a) Plantação de café

2. b) Criação de gado

3. c) Extração de ouro e diamantes

4. d) Produção de tecidos

Perguntas para o 8º Ano

Perguntas Abertas:

1. Analise as diferentes profissões de Tiradentes (militar, dentista amador, mascate, minerador). Como essa variedade de experiências pode ter influenciado sua participação e seu papel na Inconfidência Mineira?
2. Discuta a questão da escravidão dentro da Inconfidência Mineira. Havia um consenso entre os participantes sobre o fim da escravidão? O que isso revela sobre os limites do ideal de “liberdade” do movimento?
3. Compare o destino de Tiradentes com o dos outros inconfidentes condenados. Quais fatores podem explicar por que apenas ele recebeu a pena de morte?
4. Explique o processo de construção da imagem de Tiradentes como herói nacional. Por que a República precisava de um herói como ele e como a representação visual (barba, cabelos longos) contribuiu para isso?
5. Qual o significado da frase “Libertas quae sera tamen” e do triângulo na bandeira da Inconfidência? Como esses símbolos se conectam aos ideais do movimento?

Perguntas Fechadas (Múltipla Escolha):

1.O “Alvará de 1785”, que proibia manufaturas na colônia, contribuiu para a insatisfação que levou à Inconfidência Mineira porque:

a) Aumentou o preço do ouro.

b) Obrigou os colonos a consumirem produtos importados mais caros.

c) Permitiu a livre concorrência com a Inglaterra.

d) Diminuiu o imposto do Quinto.

2.A execução de Tiradentes ocorreu em qual cidade e em que ano?

a) Vila Rica, 1789

b) São João del Rei, 1790

c) Rio de Janeiro, 1792

d) Lisboa, 1792

3.A transformação de Tiradentes em herói nacional, associando sua imagem à de Jesus Cristo, serviu principalmente para:

a) Comprovar sua verdadeira aparência histórica.

b) Homenagear a Coroa Portuguesa.

c) Criticar o movimento republicano.

d) Legitimar a República e seus ideais, conferindo um caráter de martírio à sua figura.

4.O local exato de nascimento de Tiradentes é associado a qual fazenda?

a) Fazenda do Caminho Novo

b) Fazenda do Pombal

c) Fazenda da Jaguara

d) Fazenda Boa Esperança

5. Qual era a patente militar de Tiradentes?

a) Coronel

b) Capitão

c) Alferes

d) Marechal

Perguntas para o 9º Ano

Perguntas Abertas:

1. Analise criticamente o movimento da Inconfidência Mineira. Considerando a composição social de seus participantes e seus objetivos (incluindo a questão da escravidão), pode-se afirmar que era um movimento popular ou elitista? Justifique.
2. Discuta o paradoxo da figura de Tiradentes: como um participante de um movimento considerado “traição” (Inconfidência) pela Coroa e esquecido durante o Império, foi ressignificado como “Patrono Cívico do Brasil” pela República. Quais interesses políticos estavam em jogo nessa transformação?
3. Relacione a exploração do ouro em Minas Gerais com a situação econômica de Portugal e suas relações com a Inglaterra na época (mencionando o Tratado de Methuen, se possível). Como o ouro brasileiro impactou outras nações?
4. Compare a Inconfidência Mineira com outros movimentos de contestação colonial no Brasil (como a Conjuração Baiana). Quais semelhanças e diferenças podem ser apontadas em termos de objetivos, participantes e resultados? (Nota: O texto base foca na Inconfidência, mas a pergunta exige conhecimento prévio ou inferência sobre o caráter geral das revoltas).
5. Debata a validade histórica da imagem popular de Tiradentes (barba, cabelos longos, túnica). Por que essa imagem foi criada e perpetuada, e qual a importância de se discutir a diferença entre o mito e a figura histórica real?

Perguntas Fechadas (Múltipla Escolha):

1.A suspensão da Derrama pelo Visconde de Barbacena, logo após descobrir a conspiração, foi uma estratégia para:

a) Recompensar os inconfidentes pela coragem.

b) Aumentar a arrecadação de outros impostos.

c) Acalmar a população e facilitar a prisão dos conspiradores sem alarde.

d) Declarar a independência de Minas Gerais pacificamente.

2.A escolha de São João del Rei como futura capital pelos inconfidentes, em vez de Vila Rica (centro do poder colonial na época), pode indicar:

a) Uma tentativa de descentralizar o poder e romper com os símbolos coloniais.

b) A maior riqueza aurífera de São João del Rei naquele momento.

c) A preferência pessoal de Tiradentes.

d) Uma aliança militar com a cidade vizinha.

3.O resgate da figura de Tiradentes pela República (1889) ocorreu em um contexto de necessidade de:

a) Reaproximação com a monarquia portuguesa.

b) Criação de símbolos e heróis que legitimassem o novo regime republicano.

c) Homenagear a rainha D. Maria I.

d) Promover a industrialização baseada no modelo da Inconfidência.

4.A frase “Libertas quae sera tamen” foi inspirada em um verso de qual poeta da Roma Antiga?

a) Horácio

b) Ovídio

c) Virgílio

d) Cícero

5. Qual das seguintes profissões NÃO foi exercida por Tiradentes?

a) Militar (Alferes)

b) Dentista amador

c) Advogado

d) Mascate (comerciante viajante)

Respostas para as Perguntas do 9º Ano

Respostas às Perguntas Abertas:

1. A Inconfidência Mineira foi predominantemente um movimento elitista. Seus participantes eram majoritariamente membros da elite econômica e intelectual de Minas Gerais (fazendeiros, mineradores ricos, padres, militares de alta patente, poetas). Embora buscassem a independência e criticassem a exploração portuguesa (especialmente os impostos que afetavam seus lucros), seus objetivos não incluíam transformações sociais profundas, como a abolição da escravidão (sobre a qual não havia consenso). A preocupação principal era com a autonomia política e econômica da elite local.
2. O paradoxo reside na mudança de percepção histórica impulsionada por interesses políticos. Durante o Império, Tiradentes era visto negativamente como traidor da Coroa (representada pela família real que governava o Brasil) e republicano. Com a República, os novos governantes (muitos deles militares) precisavam de um mártir que simbolizasse a luta precursora pela República e pela liberdade contra a opressão monárquica. Tiradentes, com sua origem militar, execução e ideais vagamente republicanos, foi “escolhido” e sua imagem reconstruída para servir como pilar simbólico e popularizar o novo regime.
3. A exploração do ouro em Minas Gerais foi crucial para a economia portuguesa, ajudando a cobrir déficits comerciais. No entanto, grande parte desse ouro não permaneceu em Portugal. Devido a acordos como o Tratado de Methuen (Panos e Vinhos) com a Inglaterra, Portugal usava o ouro brasileiro para comprar produtos manufaturados ingleses. Assim, indiretamente, a riqueza extraída do Brasil ajudou a financiar o desenvolvimento industrial da Inglaterra, enquanto Portugal se tornava economicamente dependente e o Brasil permanecia como colônia explorada.
4. (Comparação baseada em conhecimento geral e inferências do texto) Semelhanças: Ambas foram movimentos de contestação ao domínio português, inspirados por ideais de autonomia e insatisfação com a exploração colonial. Diferenças: A Inconfidência Mineira (1789) foi um movimento predominantemente elitista, focado na independência regional (Minas) e sem consenso sobre a abolição. A Conjuração Baiana (1798) teve maior participação popular (alfaiates, soldados, negros livres e escravizados), propunha a independência, a República, e tinha pautas sociais mais radicais, como o fim da escravidão e igualdade racial. A repressão à Conjuração Baiana também foi mais severa com as camadas populares.
5. A imagem popular de Tiradentes (barba, cabelos longos, túnica) é considerada historicamente imprecisa. Militares da época usavam cabelo curto e, no máximo, bigode; prisioneiros tinham cabelos e barba raspados por higiene. Essa imagem foi criada pela República para associá-lo a Jesus Cristo, reforçando o mito do mártir e conferindo-lhe um ar messiânico e popular. Discutir essa diferença é importante para desmistificar o herói, compreender a construção política dos símbolos nacionais e analisar criticamente como a história é representada e utilizada para fins ideológicos.

Respostas às Perguntas Fechadas (Múltipla Escolha):

1. c) Acalmar a população e facilitar a prisão dos conspiradores sem alarde.
2. a) Uma tentativa de descentralizar o poder e romper com os símbolos coloniais.
3. b) Criação de símbolos e heróis que legitimassem o novo regime republicano.
4. c) Virgílio
5. c) Advogado