Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar. Esopo

TEA – DICAS DE BRINCADEIRAS

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O QUE É O AUTISMO?

Hoje em dia, devido ao aumento no número de diagnósticos e a grande exposição nas mídias, quase todo mundo já ouviu falar do autismo.

Antes de suspeitar que seu filho tivesse autismo, você provavelmente já deve ter ouvido falar sobre ele. “O filho do Marcos Mion é autista!”, “Ah, na escola da minha filha tem uma criança com autismo.”, “Um primo distante do meu pai tem autismo.”

O problema é que a maioria das pessoas não sabe muito mais do que isso. E, a partir dessa desinformação, surgem os preconceitos e generalizações: “Seu filho não é autista, meu vizinho tem autismo e passa o dia todo batendo a cabeça na parede.” ou “Os autistas são gênios, eu vi um no Encontro que fala 5 línguas!”

Infelizmente isso não acontece só com os leigos. Alguns profissionais, como pediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e, até mesmo, neuropediatras, também são mal ou pouco informados sobre o autismo.

Não sendo nada difícil ouvir relatos de pais dizendo que procuraram ajuda profissional e ouviram: “Está tudo bem, é normal a criança não falar até os 3 anos”, “ele não é autista, eu tenho um paciente autista que fica girando a consulta toda no canto da sala.”

Mas agora, a primeira coisa que você precisa entender sobre o autismo é: Não é O autista, são OS autistas.

Cada autista tem suas particularidades; primeiro, como indivíduo, pois as pessoas são diferentes entre si; segundo, o autismo se manifesta de forma diferente em cada um.

Na definição dos dois principais manuais diagnósticos, o CID e o DSM, o Autismo, ou Transtorno do Espectro Autista, é caracterizado pela dificuldade na comunicação social e na presença de comportamentos restritos e repetitivos. Essas são as características que definem o Autismo, porém elas podem se manifestar de diferentes formas e intensidades. Esses déficits podem causar prejuízos nas áreas pessoais, familiares, sociais, educacionais, atividades de vida diária e profissionais.

COMUNICAÇÃO SOCIAL

A palavra-chave aqui é INTERAÇÃO.

As pessoas com autismo tem uma grande dificuldade em iniciar ou responder a uma interação social, principalmente com pessoas fora do seu círculo mais próximo.

  • muito comum que os pais relatem a falta de interesse da criança em brincar com outras da mesma idade e até com os próprios pais.

Essa falta de interesse no outro é bem evidente quando a criança usa o outro como ferramenta para conseguir o que deseja e depois a ignora completamente.

Um exemplo: A criança pega a mãe pela mão, leva até o armário e fica emitindo sons de raiva, até que a mãe dá o biscoito preferido dela e depois sai como se a mãe não estivesse mais lá.

A dificuldade mais marcante aqui é o atraso na aquisição da linguagem. É a queixa número 1 dos pais nesta área: “Carla, meu filho tem 2 anos e ainda não fala!”.

E ainda que a criança apresente um desenvolvimento aparentemente dentro do esperado, é comum que hajam as ecolalias, que são as repetições de palavras ou frases, muitas vezes sem um contexto ou intenção comunicativa.

A pessoa com autismo também pode ter muita dificuldade em reconhecer as emoções do outro e de ter empatia. Essas habilidades são muito abstratas e complexas, principalmente para as crianças.

Um exemplo clássico disso: a pessoa com autismo começa a falar do que acha interessante. Pode falar por horas sobre aquilo, mas não consegue perceber a falta de interesse do seu parceiro pelo assunto.  A maioria dos autistas, por ter o pensamento muito concreto, pode ter dificuldades em entender metáforas, ironias, piadas e outras figuras de linguagem, tornando-os muito literais. Se você falar algo como “esse almoço está te matar”, ele não vai nem encostar na comida.

COMPORTAMENTO

Os déficits comportamentais são outra grande dificuldade das pessoas com autismo.

Um das manifestações é a inflexibilidade comportamental. A criança é muito fixada em rotinas e rituais, ela se adapta a um padrão e não aceita que alguma mudança aconteça. Por exemplo, só quer vestir a mesma camisa ou fazer o mesmo caminho para a escola.

O hiperfoco é outra característica marcante. A criança fica por muito tempo extremamente focada em uma única atividade e apresenta resistência quando necessita mudar para outra. Ela pode passar horas girando a rodinha de um carrinho, por exemplo.

Ela também pode ter interesses bastante restritos e específicos. Ou a criança pode ser apaixonada por dinossauros e só falar sobre eles. Um paciente meu só assiste Patrulha Canina e fica repetindo o mesmo episódio várias e várias vezes.

Esses interesses restritos, se bem trabalhados, tem seu lado bom. Eles podem se tornar uma profissão. A Temple Grandin adorava ficar olhando os animais na fazenda da sua tia, mais tarde se tornou pesquisadora na área de comportamento animal e revolucionou a criação de gado nos EUA.

Também é comum haver uma hiper ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais, como sons, luminosidade, texturas, por exemplo.

E a presença de movimentos estereotipados ou STIMs. O balançar das mãos, do tronco, dos pés ou até bater no próprio corpo, de forma leve ou forte, são alguns exemplos de estereotipias.

Elas são um recurso utilizado pelas pessoas com autismo para se autorregularem e, assim, evitarem crises.

Portanto, desde que a estereotipia não esteja machucando seu filho ou outra pessoa, você não precisa bloqueá-la. Ela é uma forma que ele encontrou de evitar uma crise.

OUTRAS DIFICULDADES

  • muito importante destacar o seguinte: O autismo dificilmente vem sozinho.
  • comum que, além do autismo, a criança também possa ser diagnosticada com TDAH, TOD, Epilepsia, Deficiência Intelectual ou síndromes genéticas, como Down e X Frágil.

Além disso, é muito importante cuidar da saúde emocional da pessoa com autismo, pois devido a sua tendência de isolamento e seus déficits comportamentais, ela pode desenvolver Ansiedade e Depressão à medida que vai se tornando adulto.

Mas o caso mais comum é o Transtorno do Processamento Sensorial (TPS). Tanto que ele foi incluído como característica no diagnóstico do autismo.

O TPS e a rigidez comportamental podem causar a Seletividade Alimentar. A criança pode evitar comer novos alimentos, só comer alimentos com determinadas texturas, cheiros ou cores, ou ser extremamente rígido ao ponto de só comer a mesma comida todos os dias.

Também é bastante comum que crianças com autismo tenham dificuldades com sono. Em alguns casos podem demorar muito para pegar no sono ou dormir apenas algumas horas por noite.

Por fim, uma quantidade considerável de crianças autistas desenvolvem alergias ou intolerâncias alimentares. Caso você suspeite que seu filho não esteja reagindo bem ao que come, solicite os exames alérgicos.

OS SINAIS DO AUTISMO QUE TODO PROFESSOR DEVE OBSERVAR

Até agora, já falei das principais características do autismo. Para ser um pouco mais objetiva para você que está suspeitando que seu filho tem autismo, vou listar alguns Sinais do Autismo.

  • Não interage com outras crianças;
  •       Atraso de Linguagem: Aquisição das habilidades comunicativas abaixo do esperado para a idade. Por exemplo: Não fala nada com 1 ano e meio;
  • Age como se fosse surdo: Quando está em hiperfoco, os pais chamam várias vezes e ela não reage;
  • Ecolalia: Repete palavras ou frases que acabou de ouvir de uma pessoa ou que ouviu em vídeos, de forma imediata ou tardia, com ou sem intenção de se comunicar;
  • Resiste ao aprendizado: Não aceita aprender novas habilidades ou de forma diferente;
  • Não demonstra medo de perigos reais: Não tem medo de fogo, altura, carros ou animais;
  • Resiste a mudança de rotina: Grande rigidez comportamental, quer sempre fazer as coisas do mesmo jeito e na mesma ordem;
  • Usa as pessoas como ferramentas: Pega na mão do adulto, leva até o objeto de desejo, quando consegue ignora o adulto;
  • Apresentam risos e movimentos corporais não apropriados (estereotipias);
  • Resiste ao contato físico: Pode resistir ao abraço, o toque, o beijo;
  • Acentuada hiperatividade física; o
  • Não mantém contato visual;
  • Apego não apropriado a objetos: Pode se apegar a uma pedra, por exemplo, e levar essa pedra para todos os lugares como um urso de pelúcia;
  • Gira objetos de maneira bizarra e peculiar, por exemplo gosta de brincar com as rodas da bicicleta;
  • Às vezes é agressivo e destrutivo;
  • Modo de comportamento indiferente e arredio.

Caso você identifique pelo menos 5 dos sinais que foram mostrados acima,  recomenda se que a família procure um neuropediatra ou psiquiatra infantil.

Recomendo que você pegue um papel e caneta e anote todos os sinais que observar no seu aluno ou filho , isso vai ajudar no diagnóstico. Grave alguns vídeos curtos também. Você pode não lembrar de tudo na hora da consulta.

Se possível, leve os relatórios da escola e dos terapeutas. Quanto mais informações o médico tiver, mais fácil será para ele fechar ou descartar o diagnóstico.

Não tenha vergonha de perguntar e exigir as terapias. Adiante vou falar sobre as elas.

Eu também tenho um vídeo onde me aprofundo mais sobre, clique aqui para assistir!

A INTERVENÇÃO PRECOCE

No autismo, tempo vale ouro. A regra é: Quanto mais cedo você começar, maiores os resultados. E por que a intervenção precoce é tão importante?

Isso acontece porque dos 0 aos 3 anos a criança tem uma maior neuroplasticidade, ou seja, esse é o período onde o cérebro dela está mais “maleável” e ela vai aprender mais rapidamente o que é ensinado nas terapias.

  • por isso que me dói tanto quando ouço uma mãe me escrever: “Carla, levei meu filho em um especialista e ele disse que é para esperar até os 3 anos.” Se alguém já te disse isso, troque de profissional, mas não perca tempo.

“Mas, meu filho já tem 5 anos e agora?”

Intensifique as terapias! Os resultados vão vir de forma mais lenta, mas vão vir. Eu tenho pacientes que começaram depois dos 4 anos e tiveram ótimos resultados.

Você não pode desanimar!

Eu fiz uma entrevista com a Psiquiatra da Infância e Adolescência sobre a intervenção precoce, clique aqui para assistir.

O QUE FAZER EM CASA ou NA ESCOLA?

“Já entendi que eu tenho que fazer minha parte, mas como eu posso fazer isso?”

A resposta é: brincando!

A brincadeira é a melhor forma de aprendizado para a criança, pois ela aprende na prática, vivenciando as experiências e se divertindo. Além de ser extremamente eficaz, a brincadeira é facilmente aprendida pelos pais

“Ah, mas eu não sei brincar com meu filho, eu não sou criativo…” Lembre-se que todo adulto já foi criança um dia, apesar de alguns esquecerem disso.Construir um quadro de rotina vai te ajudar bastante a organizar a brincadeira com seu filho. Recomendo que você separe um ou mais momentos todos os dias para que você brinque com seu filho. Pode ser 20, 30 minutos por dia. O mais importante é que seja com qualidade.

DICAS DE BRINCADEIRAS

Agora vou te ensinar algumas brincadeiras que eu utilizo no consultório e ensino para meus alunos e pais dos meus pacientes. Elas vão te ajudar a interagir melhor com seu filho.

Bolhas de Sabão

Essa é uma brincadeira muito simples e barata. Ela é ótima para trabalhar o contato visual. Mas não é simplesmente fazer as bolhinhas. Você precisa trabalhar a expectativa. Conte de 1 até 3 alterando a entonação e fazendo caras e bocas. “É 1, é 2, é 3 e…”, aí você para e espera a reação da criança, depois continua “e jaaaaá!!” e solta as bolhinhas.

Cócegas

Outra brincadeira para trabalhar o contato visual, principalmente para crianças com poucos interesses. Novamente trabalhe com a expectativa contando de um até 3 e partindo para as cócegas.

  • muito importante que você olhe nos olhos e incentive essa troca de olhares. De vez em quando, faça uma quebra de expectativas não fazendo as cócegas, para que a criança pare e te peça para fazer.

Fazendinha

Essa é uma ótima brincadeira para trabalhar a atenção compartilhada e o vocabulário. Comece com animais que a criança já tem contato, como cachorro, gato, vaca e cavalo. Aos poucos, você pode introduzir novos animais que ela ainda não conhece.

Se seu filho ainda não fala, comece pelas onomatopeias. Por exemplo: “Como é que a vaca faz?” Deixe um espaço para ele responder e depois você faz: “Muuuuuuu!”

Caixa Mágica

Você também pode trabalhar a expectativa e surpresa, colocando os brinquedos dentro de uma caixa e pegando-os um por um.

“O que será que vem agora?”

Se você quiser fazer com os animais fica ótimo, porque você já pode fazer os sonzinhos deles quando tirá-los da caixa: “É o cachorro! Como ele faz? Auau Auau!”. E também pode combinar com as cócegas tornando a brincadeira ainda mais divertida e interessante para a criança.

Músicas

A maioria das crianças ama música e ela é ótima para trabalhar várias habilidades, como a troca de turnos, por exemplo.   Você pode pegar as músicas preferidas do seu filho junto com ele revezando quem fala. Você canta um trecho e deixa para ele completar a última palavra ou sílaba, a depender do nível de linguagem que ele tenha. “Iam navegando pelo rio abaixo quando o jacaré se aproxi…” “…mou!” Fique à vontade para teatralizar, usar fantoches ou instrumentos, isso vai enriquecer ainda mais a brincadeira.

Você pode ver mais brincadeiras como essas . Clique aqui para assistir!

 

Se você quiser aprender mais sobre o autismo e como você pode ajudar seu aluno/  filho, conheça meu Blog e meu canal no YouTube.

 

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