Alguns fatores podem prejudicar a aquisição da linguagem e professores e familiares devem estar atentos a eles. Para começar, há fatores puramente físicos, como audição e visão. “Em alguns casos, a dificuldade surge por problemas de audição, que impedem que a criança ouça bem aos outros. Ou mesmo de visão, que a impedem de observar e apontar as coisas”, explica a fonoaudióloga Christiane Benevides, que trabalha há 20 anos com foco em terapia e crianças portadoras de necessidades especiais. Outros fatores estão ligados a estímulos. “Muitos pais não conversam com as crianças, em casa elas não têm com quem interagir, são expostas a tecnologia apenas como receptoras e assim não recebem estímulos suficientes para desenvolver a fala”.
Segundo Christiane, alguns sinais para realmente se preocupar e procurar o médico são:
- aos 3 meses, o bebê não chora nem balbucia;
- até os 18 meses não fala nenhuma palavra nem aponta para objetos ou pessoas;
- aos dois não consegue combinar duas palavras.
O pediatra deve ser procurado e ele poderá fazer encaminhamento para o fonoaudiólogo, neurologista (principalmente quando há a desconfiança de algum problema cognitivo ou deficiência) ou outro profissional que julgue necessário.
Sobre o trabalho como fonoaudióloga, ela conta o seguinte, “Inserimos a criança no mundo da linguagem através de uma forma lúdica. Como geralmente elas conseguem se comunicar no gestual, mas não no verbal, usamos bonecas, carrinhos e até aplicativos para estimulá-las. Às vezes, é a linguagem motora da língua que não está funcionando. Como a fala vem dela, usamos estímulos gustativos, térmicos e sensoriais para acordar a boca”.
Mas qual é o papel dos educadores nesse processo e como eles podem ajudar a turma nessa etapa do desenvolvimento? Com a colaboração de Ana Teresa Gavião e de Christiane Benevides, elaboramos dicas do que pode ou não ajudar no desenvolvimento dos pequenos.
Organize rodas de contação de histórias
O momento precisa ser prazeroso e aconchegante para a turma. O educador pode variar as formas como faz isso: leitura de um livro mostrando as ilustrações, usar um fantoche para contar a história, teatro de bonecos etc. As crianças precisam perceber que é possível construir uma narrativa de diferentes formas. Peça que os pais levem livros para casa e realizem esses momentos também.
Aposte em músicas
A musicalidade é outra forma muito interessante de estimular a audição e a fala das crianças. O melhor caminho a seguir é escolher músicas tradicionais da cultura brasileira e artistas que fazem arranjos interessantes voltados para o público infantil. O professor pode colocar as músicas para tocar, cantar junto e incentivar que as crianças cantem ou, no mínimo, façam gestos. “Na escola em que eu trabalho, chamamos os pais, fizemos um levantamento das músicas que as famílias cantam em casa e montamos um repertório comum e compartilhado entre a turma”, comenta a especialista Ana Teresa.
Estimule momentos de trocas entre as crianças
Aproveite a heterogeneidade da turma para propor momentos de troca e conversa entre crianças em diferentes níveis de aquisição da fala, ou mesmo de idades um pouco diferentes. Assim, mesmo que não consiga se comunicar plenamente, a criança será estimulada a se desenvolver. “Há pais que me procuram com crianças de 2 anos de idade que ainda não foram para a escola. Minha primeira recomendação é matriculá-los em uma escola. É preciso que as crianças enfrentem desafios e sejam estimuladas, tanto pelos professores quanto pelos colegas”, explica a fonoaudióloga Christiane Benevides.
Controle a ansiedade
Geralmente, a maior ansiedade é expressa pelos pais, mas também pode ser percebida em alguns professores. “Os pais têm essa ansiedade porque é mais tranquilo quando a criança já fala e pode se comunicar mais facilmente. A escola tem o papel de convidar os pais e conversar sobre esse processo, que é longo e precisa de paciência”, recomenda Ana Teresa. Outro fator que pode influenciar na ansiedade é a comparação com a velocidade do desenvolvimento de outras crianças. Por isso, é importante frisar que esse processo é bastante individual para cada criança.
Fortaleça o tripé escola-família-terapeutas
É interessante que os professores contem para as famílias sobre os avanços que cada criança vem apresentando, mesmo que eles sejam aparentemente pequenos. Além disso, é importante que os pais também sejam incentivados a dividir suas questões e dificuldades com a equipe escolar, afinal, é lá que seus filhos passam boa parte do dia. Caso a criança realize algum tipo de terapia, os professores também precisam estar a par do que acontece e de como ajudar.
Verbalize suas ações
Um ponto muito importante ao qual o professor precisa ficar atento é a verbalização de suas ações, atitude que deve ser tomada desde o contato com bebês. Por exemplo: “Nós vamos trocar a sua fralda. Agora eu vou abrir a sua fralda e limpar o seu bumbum”. “A criança precisa entender que a fala, além de sentimentos, tem uma função social de comunicação. E para isso os adultos precisam se comunicar com ela”, diz Ana Teresa.
Coloque a criança no lugar de interlocutor
Converse com os pequenos e faça perguntas para eles. Caso eles não consigam responder, dê opções para que eles apontem uma. É interessante fazer perguntas sobre acontecimentos de suas vidas, como o que ele fez no final de semana. Assim, a criança começa a entender uma das utilidades da fala, o relato.
Não fale de modo infantilizado
“Pepeta”, “mamadela”, “dodói”. “É comum, mas não indicado, que esse tipo de linguagem seja empregado com bebês. Mas quando se percebe que a criança já está amadurecendo sua fala, é muito importante parar. Ao ser tratada como um bebê muito pequeno, a criança não vê necessidade em crescer. Afinal, ela está “confortável” explica a fonoaudióloga.